Crise na Europa vai ditar o futuro da Vale em 2012
Mineradora comandada por Murilo Ferreira tenta evitar um freio no ritmo de crescimento em meio à instabilidade econômica global que afeta sua principal clientela, as siderúrgicas chinesas.
O ano de 2011 começou tumultuado para a diretoria da Vale, com direito, inclusive, a troca de comando. Murilo Ferreira, atual presidente da companhia, assumiu o posto em maio, em substituição a Roger Agnelli, que comandou a mineradora com mão de ferro durante uma década.
O ano de 2012, a julgar pelo cenário global, terá, novamente, boa carga de desafios para a cúpula da mineradora.
Um dos mais importantes deles tem relação com a instabilidade da economia europeia e seus efeitos para os mercados globais. O ajuste das contas desses países ditará boa parte das regras da demanda global por minério de ferro no ano que vem.
"No pior dos cenários, se a Europa quebrar, o mundo sofrerá recessão e haverá uma crise mais aguda. E a Vale tem forte atuação nos mercados externos", avalia Pedro Galdi, analista de investimentos da corretora SLW.
De acordo com o último balanço trimestral da empresa, 36% de sua receita veio do mercado externo. Para Galdi, o melhor dos cenários seria aquele em que o continente europeu poderá estruturar um pacote fiscal "aceitável".
Nesse cenário, explica o analista, a China, grande comprador do minério da Vale, continuará importando menos. Mas, nesse caso, haverá um porém.
"Se a Europa não empurrar a crise com a barriga, o mundo se distanciará do quadro de recessão e com isso veremos uma recuperação mais rápida dos Estados Unidos e a reconstrução do Japão", diz Galdi.
De acordo com análise da área de pesquisas da Planner Corretora, mesmo numa economia global desaquecida, a Vale deverá crescer. Mesmo assim, na avaliação da Planner, não repetirá os recordes atuais de receita. Será um ano de acomodação.
Mesmo com futuro nebuloso e que impede, inclusive, analistas de arriscarem estimativas de demanda e de preços futuros, a companhia mostra que não aposta no pior dos cenários.
Também em balanço de resultados do terceiro trimestre, a Vale afirma acreditar que o risco de países desenvolvidos apresentarem lento crescimento por um longo período é maior do que o risco recessão global.
Diante da expectativa, a empresa anunciou um pacote de investimentos de R$ 21,4 bilhões para o próximo ano. A maior parte, US$ 12,9 bilhões, será destinada à execução de projetos.
Além disso, o plano inclui gastos de US$ 2,4 bilhões com pesquisa e desenvolvimento e de US$ 6,1 bilhões para sustentação das operações existentes. Do total, 63% será destinado ao Brasil.
Por área de negócios, os minerais ferrosos, principal fonte de receita da companhia, continuam sendo o alvo e levarão a maior fatia do aporte, equivalente a 46,7%. No terceiro trimestre, os minerais ferrosos responderam por 74% da receita operacional de R$ 28 bilhões.
Diversificação
As áreas de fertilizantes e a de siderurgia, por exemplo, embora ainda representem pouco no portfólio de negócios da companhia, não ficaram de fora do planejamento. Serão destinados a elas fatias de 9,6% e 2,9% dos recursos que serão empregados.
"A Vale mostra intenção de diversificar os negócios para se tornar menos dependente da área de insumos de siderurgia", diz Galdi. Os fertilizantes representaram somente 6% do faturamento bruto da companhia no terceiro trimestre e, com os investimentos em curso, poderão representar mais de 10% no próximo ano, estimam analistas.
A empresa ainda não sinalizou se pretende apenas vender insumos para misturadoras ou se poderia adquirir alguma dessas empresas e se tornar um fornecedor para o cliente final de fertilizantes.
De acordo com fontes do mercado, para a Vale ainda é mais interessante manter as atividades no negócio que domina, de explorar jazidas e, portanto, não se envolver com a próxima etapa da cadeia.
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