Documento revela monitoramento da Vale a lideranças
Manaira Medeiros
17/06/2013 13:03 - Atualizado
em 19/06/2013 17:08
Mais um dossiê relevado pelo ex-gerente
de Inteligência Corporativa da Vale, André Almeida, aponta monitoramento a
lideranças de 23 “áreas de influência” da empresa no Espírito Santo. Estão
incluídos na lista seis sindicalistas e lideranças comunitárias de 11 bairros
de Vitória e Serra, e ainda uma de Anchieta, sul do Estado, onde a empresa
pretendia construir a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU). Também há relatos
sobre ações do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e dos movimentos comunitários de Fundão,
Colatina e Baixo Guandu.
O documento é intitulado “Avaliação das
Áreas de Influência da Vale no Espírito Santo” – locais e/ou regiões sensíveis
às ações dos Movimentos Políticos, Sociais e Indígenas (MPSI).
Além do Espírito Santo, o documento
indica monitoramento a 25 áreas no Maranhão; 35 no Pará; 10 no Rio de Janeiro;
12 em Minas Gerais, um em Goiás e seis na Bahia. Somando todos os estados, são
ao todo 112 áreas investigadas pela Vale no país.
Todos os relatórios apontam tópicos
sobre Tipo do Negócio, Ponto, Descrição do Problema (veja tabela abaixo), Principais
Lideranças, Município e Outras Informações. A empresa classificava cada área de
acordo com seu grau de “Criticidade”, separada pelas cores verde, amarela,
laranja e vermelha.
Em Anchieta, sul do Estado, o nome é do
ambientalista Bruno Fernandes da Silva, que presidia o Grupo de Apoio ao Meio
Ambiente (Gama), responsável por apontar inúmeras irregularidades na condução
do processo de licenciamento ambiental da CSU em Anchieta, denunciado ao
Ministério Público do Estado (MPES). Bruno Fernandes não atua mais no Estado.
Em relação aos sindicalistas, o
mapeamento indica os nomes de João Batista, do Sindicato das Indústrias
Metalúrgicas e de Material Elétrico do Estado do Espírito Santo (Sindifer);
Carlos Alberto Mazzoni, do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários (Sindirodoviários);
Alvarenga, do Sindicado dos Seguranças do Estado (Sindseg); Paulo César, do
Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintraconst); Roberto Pereira,
do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado (Sindimetal) e Kepler Daniel –
ArcelorMittal – e Adir Barbosa – Vale, ambos do Sindicato dos Técnicos
Industriais de Nível Médio do Estado (Sintec-ES).
Outra informação apontada pela área de
Segurança no relatório se refere ao conflito entre índios e a Aracruz Celulose,
que culminou com o processo de autodemarcação do território de 11.009 hectares.
A Vale demonstrava preocupação: “no levantamento que fizemos com base no mapa
da Funai [Fundação Nacional do Índio], as áreas Guarani e Tupiniquim (Terra
Indígenas Comboios e Tupinquim – Caieiras Velhas, Pau Brasil e Irajá”
incorporariam trecho da EFVM [Estrada de Ferro Minas Vitória], que atende
Portocel”.
De acordo o denunciante, os Movimentos
Políticos, Sociais e Indígenas (MPSI) tinham como subprodutos o monitoramento
de lideranças, a antecipação de ações, a descoberta de planejamento e até
incitação contra outras empresas para retirar o foco da Vale. O que era
possível com a manutenção de infiltrados nas entidades, contratados por meio de
empresas especializadas, principalmente a Network Inteligência
Corporativa.
A Diretoria de Segurança Empresarial
atuava também com a realização de “case”, que detalhava investigações
realizadas pelo setor, envolvendo empregadores próprios e terceirizados, além
de fornecedores. Os trabalhos incluíam filmagens, fotografias e gravações.
Outro instrumento utilizado pela empresa era os “mosaicos”, relatórios finais
de investigação apresentados à diretoria e à presidência da empresa.
A denúncia do ex-gerente de
Inteligência Corporativa, que ganhou a imprensa nacional em abril deste ano,
aponta ainda para grampos telefônicos, quebras de sigilo bancário, invasão de
privacidade, ameaças, subornos, chantagem e coações.
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