Em Brasília, comitiva capixaba apontará impactos de siderúrgica da Vale no sul

A degradação do rio Benevente e os impactos socioambientais previstos com a implantação da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), da Vale, no município de Anchieta, sul do Estado, serão relatados por uma delegação capixaba em evento na Universidade Federal de Brasília, nestas quinta e sexta-feiras (11 e 12), com o tema “O grito social das águas do Atlântico Sul”, que contará com a presença da ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
Os representantes do Estado fazem parte do movimento de resistência à implantação da CSU na área proposta, e sem a apresentação dos estudos que avaliam impactos como o inchaço populacional, aumento da violência, poluição do ar e à saúde, à economia, ao turismo e às áreas protegidas. Estes pontos, apesar de essenciais, não foram contemplados nos estudos necessários para o pedido de licenciamento ambiental protocolado pela transnacional no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).
Participarão do encontro em Brasília o representante da Colônia Z4 de Pescadores, Adilson Neves, conhecido como “Russo”; a professora doutora Maria Helena Rauta, a pesquisadora Rowena Porto, o professor da Universidade Federal do Estado (Ufes) César Albenes de Mendonça e Shirmerly Pereira, moradora da Chapada do A, comunidade tradicional ameaçada de desaparecer, assim como a de Monteiro.
Na ocasião, será realizado um ciclo de conferências para debater os problemas que atingem as bacias hidrográficas ameaçadas por projetos poluidores. Os capixabas irão denunciar a situação dos pescadores artesanais e moradores ribeirinhos do rio Benevente, exaurido pelas atividades da Samarco Mineração. Já Maria Helena Rauta apresentará os resultados de pesquisa que desenvolve na região, ressaltando os prognósticos negativos previstos para os próximos anos, com implantação da siderúrgica da Vale.
Além da ministra de Meio Ambiente, confirmaram presença ao encontro a deputada federal reeleita Iriny Lopes (PT) e o senador Jefferson Praia Bezerra (PDT/AM). A intenção e aproveitar a participação de Izabella Teixeira e dos parlamentares para agendar audiência com uma comitiva do Estado, para tratar especificamente da Companhia Siderúrgica de Ubu.
Iniciativa do grupo de pesquisas sobre Poder Local, Políticas Urbanas e Serviço Social da UnB, o evento se consolida como o primeiro espaço para destacar, em escala nacional, as contradições na implantação dos chamados grandes projetos, cujos reais impactos são omitidos pela mídia corporativa.
Os debates também abordarão a problemática que envolve usinas em águas pantaneiras, na região Centro-Oeste; a crise social gerada pelo projeto de transposição do rio São Francisco, no Nordeste; e das siderúrgicas instaladas em áreas litorâneas frágeis e urbanizadas da costa brasileira, no Sudeste. Já na região Norte, os impactos das hidrelétricas.
Irregularidades
O processo de implantação da siderúrgica da Vale em Anchieta é marcado por omissões e favorecimentos do governo do Estado, que caminha para conceder a Licença Prévia à transnacional, sem considerar os inúmeros questionamentos feitos pela sociedade civil sobre o empreendimento, assinados pelo Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama). Para garantir o projeto, o governador Paulo Hartung decretou a área de utilidade pública, contrariando os termos previstos no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Além de destruir duas comunidades tradicionais, a siderúrgica irá agravar o problema de indisponibilidade hídrica do rio Benevente e os índices de poluição do ar, que já ultrapassam os limites estabelecidos pelo Conama, em decorrência das atividades da Samarco Mineração. Argumentos, aliás, que o governo do Estado usou para justificar a desistência do projeto dos chineses da Baosteel, no mesmo modelo da CSU.
A siderúrgica da Vale terá capacidade de produzir 5 milhões de toneladas/ano de aço, com potencial de emissões de 9,7 milhões de toneladas/ano de CO2, gás que provoca o aquecimento global. A captação da água do rio Benevente é de 1,8 milhão de litros por hora e mais 4 milhões de litros do mar, também por hora.
Para Anchieta, também estão programados o projeto da 4ª Usina da Samarco, um porto da Petrobras e da Vale e ainda uma ferrovia. Mas os impactos ambiental, econômico e social não se restringem ao município, atingindo também as cidades vizinhas, como Piúma e Guarapari. O que descaracteriza a principal vocação da região, o turismo.

Manaira Medeiros 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Novo circuito turístico em Anchieta, Vale Viver Corindiba

LUTA PELA TERRA. Auto-reconhecimento da comunidade indígena Tupiniquim da Chapada do A em Anchieta

Anchieta é a cidade mais rica do Espírito Santo e a 10ª do Brasil !