Enfrentando impactos: criado o Fórum Permanente de Defesa de Anchieta

Um Fórum Permanente em defesa da qualidade de vida no município de Anchieta começou a funcionar esta semana com o intuito de combater a instalação da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), pela Vale, no município. Segundo seus representantes, a região é inviável para a construção de uma siderúrgica e, portanto, todos os pontos defendidos pela empresa devem ser analisados pelo Fórum, como as diferenças entre CSU e a chinesa Baostel, cuja instalação foi rejeitada no passado.
Além da semelhança no empreendimento, entidades afirmam que a CSU apenas adaptou os estudos da Baostell para protocolar seu pedido de licença no órgão ambiental e vem coagindo moradores dos bairros onde pretende se instalar, como é o casso de Chapada do A e Monteiro. Ela também está ignorando as solicitações da sociedade sobre os resultados de estudos na região.
Vão acompanhar todos os desdobramentos do processo de licenciamento e realizar ações as entidades do Fórum,    coordenada  pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES), Central Única dos Trabalhadores (CUT); Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Associação de Moradores da Chapada do A; Associações de Pescadores de Ubu e Parati; Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama) e Federação das Associações dos Moradores e dos Movimentos Populares do Espírito Santo (Famopes).
Na prática, as entidades querem alertar para o risco de falta d´água no futuro caso a CSU se instale na região. Além disso, o crescimento desordenado, conforme ocorreu no momento de construção da Samarco Mineração S/A na região; a não destruição do manguezal, da bacia do rio Benevente e dos bancos de corais da região, também serão temas estudados pelo fórum.
A informação das entidades é que a região está saturada, violenta e com seus recursos naturais degradados devido à exploração excessiva e irresponsável dos recursos locais. Além disso, durante todo o processo de desenvolvimento defendido pelo governo do Estado na região, não houve projetos que garantissem a infraestrutura local, impactando de forma irreversível a vida da comunidade.
Para a construção da CSU,  por exemplo, praticamente duas comunidades terão que ser destruídas e posteriormente alojadas em outras regiões. Entretanto, segundo as denúncias oficializadas no I Encontro de Atingidos pela Vale, realizado este ano no Rio de Janeiro, as comunidades que se sujeitaram a abandonar suas terras sofreram com a descaracterização de sua cultura e com más condições de moradias proporcionadas pela mineradora. Uma das comunidades ameaçadas pela CSU em Anchieta, a Chapada do A,  é formada por descendentes de indígenas.
Diante da constatação da inviabilidade hídrica da região para abastecer a indústria e ainda suportar o crescimento populacional previsto com a chegada de trabalhadores para a CSU, as entidades são ainda mais críticas. O projeto de recurso de água apresentado pela CSU é insatisfatório e omite dados técnicos fundamentais para a avaliação do órgão ambiental, dizem os ambientalistas. Além disso, eles ressaltam que no verão deste ano já houve falta d´água no município e na região do entorno, como Guarapari e Piúma, obrigando as comunidades a conviver com a rotina de rodízio de água.
A informação é de que só a CSU irá captar 1,8 milhão de litros de água por hora do já exaurido rio Benevente e mais 4 milhões de litros de água do mar, também por hora, conforme alerta a Associação de Moradores de Jabaquara, bairro cortado pelo rio exatamente no ponto de onde a CSU pretende extrair água.
Além disso, o município está saturado. Após a construção da mineradora Samarco S/A na região, milhares de trabalhadores chegaram á região e hoje lá surgiram bolsões de miséria. O tráfico de droga e a prostituição, que não existiam na região, também viraram realidade.
A inviabilidade para a instalação do projeto é tanta, alertam os especialistas, que até o momento a Vale ainda não achou um parceiro para sua empreitada.  Nem a Arcelor Mittal, cotada para entrar para o negócio, garante sua participação.
Em entrevista para o jornal A Tribuna, o presidente da Arcelor Mittal, Benjamim Baptista Filho, afirmou estar cético quanto à viabilidade do projeto. Ele disse ainda que a “Vale vem fazendo de tudo para conseguir a licença ambiental”, o que deverá, na prática, encarecer demais o projeto.
Ao todo, a CSU quer produzir 5 milhões de placas de aço por ano no balneário turístico de Anchieta. Além da siderúrgica, a Vale quer construir na região um sistema logístico de suporte à CSU que inclui a construção de um porto de águas profundas com capacidade de embarque de toda a produção da siderúrgica e uma ferrovia que deverá atravessar municípios entre Caciacica e Cachoeiro de Itapemirim.

Por: Flavia Bernardes 
www.seculodiario.com

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