CSU: Vale se impõe na Chapada do A e anuncia construção de usina em 2013
Por: Flavia Bernardes
A Vale anunciou que irá começar as obras da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU) em Anchieta, em 2013. Com um investimento de R$ 10 bilhões, o que a mineradora não diz é que continua com o processo de assediar os moradores da Chapada do A, mesmo após o Termo de Ajustamento de Conduta, assinado para garantir a segurança das famílias.
A permanência das famílias descendentes de indígenas que vivem na Chapada do A, área pretendida pela empresa para a construção da CSU/Vale, é prevista pela condicionante n°38 definida antes mesmo de a Licença Prévia (LP) ser concedida à empresa.
Momentaneamente, a notícia foi comemorada pela comunidade, mesmo sabendo que estas famílias demandarão estruturas específicas de passagem pelo corredor logístico da siderúrgica, ou seja, estariam definitivamente ilhadas pelo empreendimento.
O que ocorre, segundo os moradores, é que a Vale, que se comprometeu a cessar o assédio sobre os moradores da região, não está cumprindo a sua palavra. Através de um serviço terceirizado, técnicos estão convencendo alguns moradores a deixar medir e avaliar as casas, sem compromisso. Entretanto, ao criarem acesso a alguns moradores, estão pressionando os outros afirmando que a medida é prevista, necessária e que deve ser consentida.
Nesta confusão de valores e compromisso público com a população, o que se vê, mais uma vez, é que estão tentando colocar um empreendimento em uma balneário que não comporta tal investimento. O mesmo ocorreu com o município de Aracruz ao receber a ex-Aracruz Celulose como proposta de desenvolvimento para a região: um município inseguro, com saúde precária, bolsões de miséria, desemprego, drogas, prostituição e incontáveis impactos ambientais.
Geraldo Hasse, em sua coluna, retrata bem este processo: “Ontem foi Barra do Riacho, anteontem Tubarão, hoje é Ubu o melhor lugar para sondar o futuro do Espírito Santo”. E diz mais: “Iniciado há mais de 30 anos pela Samarco, alías Vale”, a produção da CSU de 5 milhões de toneladas de aço por ano, o que representa 1% da capacidade mundial estimada em 500 milhões anuais, vê-se que sobra aço no mundo, que há muitas usinas paradas ou operando com ociosidade, ou seja, o projeto da CSU não faz sentido”.
Prova disso é que a Vale, interessada mais em mineração do que na produção do aço, ainda procura um parceiro para não bancar sozinha a siderúrgica em Anchieta.
Visto que o processo de licenciamento é contestado por ações judiciais movidas pelos mais diversos motivos como o ritmo acelerado do processo de licenciamento; o decreto do Estado que estabeleceu o empreendimento como de utilidade pública, contrariando as resoluções previstas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e a concessão da outorga para uso e intervenção nos recursos hídricos do rio Benevente, em Anchieta, onde já foi registrada escassez hídrica que inviabilizou o antigo projeto da Baosteel, o processo de instalação da CSU em Anchieta, pela Vale, destoa de exigências legais e demonstra o empenho do poder público em beneficiar o empreendimento em detrimento dos interessesa da sociedade.
Só no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foram encontrados falhas, inclusive, sobre os impactos gerados aos moradores que vivem no entorno da futura Companhia. A previsão é que, com a CSU, sejam agravados os impactos à saúde, à economia, ao turismo, aos rios e às áreas protegidas de Anchieta.
Levando em consideração que a Vale até os dias de hoje não adequou sua produção para minimizar seus impactos, e a Companhia Siderúrgica do Atlântico, resultado de uma parceria entre a Vale e Thyssenkrupp, implantada em Santa Cruz, Rio de Janeiro, foi construída nos mesmos moldes propostos para a CSU, em Anchieta, e já é polêmica na região devido aos seus impactos ambientais. Esta empresa já foi multada três vezes e em uma delas por contaminar 6 mil casas da região – a expectativa na região não é boa e o anúncio da CSU de iniciar sua operação em 2015 assusta.
A informação da Secretaria de Saúde do município é que em 10 anos 185 pessoas morreram de câncer relacionados à neoplasia maligna dos brônquios e dos pulmões no município de Anchieta. Segundo o levantamento das mortes ocasionadas por este tipo de câncer registradas de 2000 e 2010, 25 foram geradas por neoplasia maligna dos brônquios e dos pulmões. Por este mesmo motivo morreram 33 pessoas em 2005; 24 em 2007 e 18 em 2009, e a média de óbitos por câncer no município varia de uma a duas pessoas por mês.
A informação é que na região aumentou o número de crianças alérgicas, com rinite, sinusite e bronquite, nos últimos anos.
Com a construção da CSU, a siderúrgica irá acrescentar a este contexto a emissão de 7 milhões de toneladas de CO2 por ano. A quantidade equivale a mais da metade das emissões de dióxido de carbono lançadas pela Vale em todo o mundo. Ao todo, a Vale lança 16,86 milhões de toneladas de CO2 por ano no mundo, segundo seu próprio inventário.
Com 21 mil habitantes, Anchieta reclama e tenta agora sistematizar dados relativos aos 20 anos de denúncias e problemas gerados pela Samarco Mineração S/A, como o derramamento de minério na praia e no mar; o aumento da poluição que já ultrapassou os limites permitidos por lei e a contaminação da Lagoa Mãe-Bá com metais pesados.
No caso da mineradora da Samarco e da Vale, em Anchieta, os índices de poluição emitidos já ultrapassaram os limites previstos em Lei.
No ranking dos casos de câncer que acometem a população de Anchieta, a neoplasia maligna dos brônquios e dos pulmões lidera com 25 casos registrados em dez anos. Em segundo lugar está a neoplasia maligna de estômago, com 20 casos confirmados, e em terceiro lugar o câncer de esôfago, com 14 registros.
Fonte: www.seculodiario.com.br
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