Pressão psicológica da CSU sobre comunidade de Anchieta vai ao MPES


Flavia Bernardes 
O Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama) quer que o Ministério Público Estadual do Espírito Santo (MPES) impeça a pressão psicológica feita por funcionários contratados pela Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), da Vale, aos moradores da comunidade Chapada do A, em Anchieta. Entre as ações de intimidação está o envolvimento de idosos e crianças no debate sobre a venda ou não dos imóveis da região.
Segundo a ONG, é urgente a intervenção do órgão, considerando que as intimidações ocorrem diariamente e atingem grande parte das famílias moradoras do bairro Chapada do A, em Anchieta, onde a CSU pretende se instalar.
“As crianças, naturalmente imaturas, se revoltam com os assédios por elas sofridos, assumindo a defesa do ponto de vista de seus familiares”, diz o ofício.
Já em outras ocasiões, os moradores mais antigos reclamam que ao se negarem a vender suas casas, são desrespeitados pelos pesquisadores da CSU. “Eles procuram os mais jovens da família, falam que não vai ter jeito, que vamos ser obrigados a sair e que alguém tem que fazer algo. Isso cria um mal-estar na família muito grande”, ressalta um dos moradores que temem se identificar.
Tanto a comunidade da Chapada do A quanto a de Monteiro estão localizadas na mesma região em que a Baosteel pretendia construir sua siderúrgica, criticada no Estado por ambientalistas por gerar inúmeros impactos sociais e ambientais. Desta vez, é a CSU, e segundo os moradores, é cada vez maior o assédio sobre a comunidade.
Eles relatam estar sendo acuados devido às ações das equipes contratadas pela CSU/Vale. Essas equipes deixam claro que estão lá para fazer levantamentos com o objetivo de impedir que os moradores continuem habitando a região.
Os moradores afirmam que, conforme a memória de seus habitantes e os estudos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a região já foi uma aldeia indígenas.
“Um dos moradores, idoso que não quer que seu nome figure neste expediente, de tão nervoso e ansioso ficou três dias sem alimentação, considerando as constantes visitas de funcionários da firma contratada da CSU em sua casa”, diz o ofício encaminhado pelo Gama ao MPES. 
Segundo o Gama, as equipes contratadas pela CSU/Vale afirmam às famílias que elas não terão como permanecer na área, que devem e que a instalação da CSU na região é certa. Além disso, visitas surpresas são feitas à escola da região, obrigando os professores a pararem as aulas para atender aos pesquisadores da empresa. Os pesquisadores também visitam as residências no horário de almoço, ao anoitecer e aos sábados.
Entretanto, além de não admitirem deixar a região, as famílias não se interessam pela venda de suas propriedades. Em grande parte, trata-se de famílias que vivem na região há décadas. Muitos afirmam que só sairão da região mortos.
Mas o vai-e-vem dos pesquisadores e as frases de intimidação não cessam. A última investida da empresa foi relatada por uma senhora que se sentiu desrespeitada na frente de sua neta. “A minha neta disse que eu era brava e a pesquisadora olhou e disse que bravo é o cachorro, leão e outros animais ferozes”.
Portanto, afirma o Gama, o MPES deve assegurar o cumprimento da Constituição Federal, que  institui  um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna.
“No dia 20 de março, sábado de sol, recebemos uma ligação pela manhã de uma das líderes, desesperada para comparecermos urgentemente à comunidade, pois um homem chamado Dimas, da CSU, mais o pessoal da topografia e outro senhor chamado Leonardo, da Secretaria de Obras de Anchieta, estavam na comunidade querendo medir os terrenos, invadindo a propriedade privada de seus habitantes”, denuncia a ONG.
Estas ações, portanto, ferem princípios da Constituição Federal e mostram que políticos e empresas continuam atrelados, aproveitando-se da simplicidade de um povo rural. Para isso, chegam inclusive a pedir a apresentação do registro de imóvel e pessoal para providenciar a retirada das famílias sem o seu real consentimento.
Neste contexto, diz a ONG, entre a teoria – afirmações da CSU de que as negociações com as famílias da Chapada do A estão avançadas - e a prática, é possível observar uma grande diferença na atuação da empresa em Anchieta.

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